quarta-feira, julho 31, 2013

O blog agora vai para a Veja.com

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Obrigado,

Rodrigo.

Privatizem a Cedae

Fonte: G1
Rodrigo Constantino

Deu no GLOBOCedae, uma caixa-preta sem controle

Inaugurado com pompa e circunstância em dezembro, o prédio espelhado da Cedae, que impede a visão dos escritórios por quem passa pela Avenida Presidente Vargas, na Cidade Nova, reflete a falta de transparência da empresa de economia mista, controlada pelo estado, que fechou 2012 com lucro de R$ 162,9 milhões. Especialistas em saneamento enxergam na falta de controle uma das causas da deficiência operacional da Cedae. E mais: chegam a afirmar que a empresa atua irregularmente há seis anos e que as revisões tarifárias nesse período são ilegais. Isso porque, aos 38 anos de vida, a companhia — diferentemente de todas as concessionárias que prestam serviço nas capitais do Sudeste — ainda não tem regulação, contrariando a lei federal de saneamento (11.445/2007). E enfrenta problemas crônicos, como o lançamento de esgoto na Praia de Botafogo, a poluição da Baía de Guanabara e impasses no saneamento das favelas.

Segunda maior companhia de saneamento do país, a Cedae é responsável pelo abastecimento de água de 64 dos 92 municípios fluminenses e pela rede de esgoto em 33. Presta serviço a 11 milhões de pessoas (68% dos fluminenses). Na abertura da sessão legislativa deste ano, em 5 de fevereiro, o próprio governador Sérgio Cabral fez um mea-culpa: “Há algo no meu governo com que não estou satisfeito: é a questão do abastecimento da água e do tratamento de esgoto, porque estamos ainda muito aquém do que deveríamos estar”, reconheceu ele, prometendo investimentos e avanços no setor. O mesmo governador assinou, no fim do ano passado, um decreto prevendo que a Cedae só será controlada pela Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio (Agenersa) em agosto de 2015.


Mas o jornal coloca um ênfase muito grande na agência reguladora, e esquece o principal: a gestão estatal costuma ser sempre menos eficiente e menos transparente. Em meu livro Privatize Já, dedico um capítulo ao setor fundamental de saneamento básico. Segue um trecho:


A Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), por exemplo, viu sua posição despencar no ranking de saneamento básico. De acordo com os dados do SNIS, o nível de atendimento da população fluminense por coleta de esgoto caiu da faixa de 82% em 2003 para 69% em 2009. A assessoria de imprensa da Cedae se recusou a comentar a queda, divulgada pelo jornal Valor Econômico em junho de 2012.


Em sua tese de mestrado na USP de 2005, Victor Toyoji de Nozaki analisou o setor de saneamento brasileiro. Para ele, “os resultados apresentados demonstram que os prestadores dos serviços de saneamento básico privados obtiveram uma performance melhor do que os públicos, tanto em questões administrativas, financeiras, operacionais e técnicas”. E mais: “são obtidas evidências de que a privatização está associada com uma significativa redução na mortalidade infantil”.

O descaso da gestão estatal acaba colocando em risco a vida das pessoas. Na tragédia em Campo Grande, com a morte de uma menina de apenas três anos, ainda é preciso concluir investigações. Mas tudo indica que foi falha da Cedae, que havia feito reparos recentes na adutora. Se fosse com uma empresa privada, não só os riscos seriam menores, como haveria maior responsabilização por um erro desses.

Nada justifica manter o estado na gestão dessas empresas. O estado não é um bom empresário. Ele deve cuidar somente de setores que não podem ou não devem ser administrados pela iniciativa privada com base nas leis de mercado e lucro. Não é o caso do abastecimento de água e esgoto. Há empresas privadas fornecendo esse serviço, de forma bem mais eficiente que o estado. Privatize já!

O Obama é prefeito em Maricá?

Rodrigo Constantino

Deu no GLOBOO exército de Quaquá: prefeito de Maricá contrata segurança privada por R$ 2,1 milhões

Quanto vale a segurança pessoal de um prefeito? No caso de Maricá, cidade da Região Metropolitana do Rio com 134 mil habitantes, a proteção do chefe do Executivo, Washington Quaquá (PT), custa R$ 2,1 milhões por ano, apesar de a Polícia Militar ter como dever garantir a proteção dele — que só anda de carro blindado — e de toda a população do município. O dinheiro público banca a despesa de um grupo de 24 homens armados durante 24 horas por dia. Por mês, o município desembolsa cerca de R$ 173 mil para evitar que Quaquá seja vítima de qualquer ataque. O serviço se estende ao vice-prefeito, professor Marcos Ribeiro, também do PT, que tem direito à metade desse contingente.

Os pagamentos são feitos à Guepardo Vigilância e Segurança Empresarial Ltda., empresa com sede em Niterói, também na Região Metropolitana. O prazo do contrato, publicado em 2 de maio deste ano no Diário Oficial do município, é de um ano e 17 dias. O termo firmado entre a prefeitura e a empresa prevê a “prestação de segurança pessoal privada armada no desenvolvimento de atividades de segurança de pessoas para atendimento das autoridades”.


Haja risco de vida para justificar um aparato tão grande de seguranças! Não será culpado quem pensar que é o próprio Barack Obama o prefeito de Maricá. Ou, então, podemos aderir a uma tese diferente: muitos petistas, apesar do discurso popular (populista?), quando chegam ao poder aderem ao estilo nababesco de vida dos típicos milionários, sendo que jogam a conta para ombros alheios.

E quem poderia acusá-los de não ter um "bom" exemplo em cima, no topo da hierarquia do partido? Alguém lembra que o metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva, assim que eleito, usou carro oficial exclusivo em desfile para a sua cadela? Alguém lembra dos tecidos egípcios comprados para forrar os cômodos do Palácio? Alguém lembra de familiares do ex-presidente usando aviões da FAB por diversão?

O "argumento" usado por Quaquá para contratar mais de 130 "cumpanheiros" para cargos de confiança é que ele é contra o "estado mínimo". Percebe-se! Os petistas, pelo visto, apreciam um "estado máximo" para caber todos os seus camaradas. E quem paga a conta dessa farra toda? Ora bolas, nós, os defensores do estado mínimo.

terça-feira, julho 30, 2013

Freibettofobia

Rodrigo Constantino

Em artigo hoje na Folha, Frei Betto discorda do Papa Francisco quanto aos gays:

"Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-la? O catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados, mas integrados à sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não! Devemos ser como irmãos. O problema é fazer lobby."

São palavras do papa Francisco ao deixar o Brasil, no voo entre Rio e Roma. A mensagem é esperançosa, mas, ao contrário do que o papa diz, o problema no Brasil é o lobby antigay, liderado pelo deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.

Ou seja, para o Papa, o problema não são os gays, mas o lobby do movimento gay, que são coisas bem diferentes. Já Frei Betto pensa que o problema está em Feliciano e no lobby antigay. Dou razão ao Papa nessa divergência, ainda que a postura de Feliciano seja realmente condenável.

O movimento gay tem cores autoritárias, intolerantes, e não se contenta em lutar por direitos individuais; quer enfiar goela abaixo dos demais sua visão de mundo, quase que obrigando todos a acharem a coisa mais linda do mundo um homem beijando outro homem. 

Além disso, há um claro ataque do movimento aos valores familiares tradicionais. Alguns querem inclusive retirar o nome de pai e mãe de documentos para não "ofender" filhos de casal gay. Absurdo dos absurdos.

Em outras palavras, o movimento gay, coletivista, não enxerga indivíduos, mas apenas uma categoria monolítica, como todo movimento coletivista. E apela para a vitimização para conquistar privilégios e para impor uma agenda cultural perigosa. Tudo em nome da "tolerância" e da "diversidade", sem tolerar diversidade alguma na prática.

Frei Betto tenta dar uma aula sobre fobias em seu texto depois. Ele diz:

Terapia é própria para obsessivos, como é o caso de quem odeia constatar que homossexual é uma pessoa feliz. Isto sim é doença: a homofobia, aliás, como toda fobia. E há inúmeras: desde a eleuterofobia, o medo da liberdade que, com certeza, caracteriza os fundamentalistas, até a malaxofobia, o medo de amar sobretudo quem de nós difere.

Em primeiro lugar, cabe perguntar: por acaso todo gay é feliz? Eis um comentário estranho do autor, que usa o significado do termo "gay" para concluir algo sem sentido. Podemos ter gays felizes e bem resolvidos com sua situação, e podemos ter gays infelizes e profundamente angustiados com sua condição. Devemos olhar indivíduos, insisto.

Sobre fobia, cabe perguntar: estamos falando, realmente, de medo? Quem tem medo de gay? Alguém por acaso olha um homossexual e sai correndo em pânico? De que? Parece claro que o termo é inadequado na largada. O que muitos sentem é certo desconforto, ou em alguns casos até mesmo repulsa natural, ao ver um homem beijando outro homem. Podemos debater se isso é fruto de preconceito, de herança social, ou do que for, mas não devemos chamar de medo uma reação de aversão. 

Curiosamente, Frei Betto fala de medo da liberdade (eleuterofobia). Ora, sabemos que Frei Betto é defensor do regime cubano até hoje, que, aliás, sempre perseguiu duramente os homossexuais (Che Guevara queria, esse sim, curar na marra os gays, ao contrário do pastor Feliciano). Alguém que aplaude a mais longa e sanguinária ditadura do continente deveria tomar mais cuidado ao falar em medo da liberdade. Na verdade, Frei Betto odeia a liberdade - dos outros. Por isso defende Fidel Castro.

Sobre o medo de amar quem de nós difere (malaxofobia), cabe perguntar ao Frei Betto o que ele sente pelos capitalistas, pelos empresários que querem lucrar, pelos conservadores, pelos liberais, e sim, por reacionários religiosos como Marco Feliciano. Ele "ama" todos estes? Porque não foi isso que ficou parecendo no começo do artigo. Duplo padrão, a marca registrada da esquerda.

Enfim, o texto de Frei Betto é mais um sinal de que é preciso redobrar o cuidado com esse movimento gay. Quando temos Frei Betto e Jean Wyllys, do PSOL, de mãos dadas entoando a defesa de uma causa, é melhor ficar de olho bem aberto. É quase certo que tomar o partido contrário irá te colocar no rumo certo. Sim, eu confesso que sofro de certa "freibettofobia". É que eu vi o que aconteceu em Cuba. E disso sim, eu morro de medo!

Xô, ufanismo!

Ação da CSN no ano. Fonte: Bloomberg

Rodrigo Constantino

Em sua coluna de hoje na Folha, o empresário Benjamin Steinbruch critica aqueles que ele chama de pessimistas infundados. Para o empresário, essa gente atrasa o país. Diz ele:

A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa, a uma empresa ou a um país é se deixar levar por ondas de pessimismo. E o Brasil corre esse risco neste momento.

Se levarmos a sério discursos de alguns analistas, o país estaria à beira de uma hecatombe econômica e política.

A inflação estaria perigosamente descontrolada; a atividade econômica, no caminho inevitável da recessão; as contas públicas, totalmente desarrumadas; as contas externas, no rumo do default; a corrupção, em ritmo desenfreado em todas as esferas públicas e privadas.

Temos efetivamente problemas com inflação, atividade econômica, contas públicas, contas externas, corrupção e em muitas outras áreas. Mas só pessoas impregnadas por pessimismo doentio ou mal-intencionadas podem considerar esses problemas como insuperáveis.

Como tenho sido um desses "pessimistas", falo que, de minha parte, não considero o país perto de uma "hecatombe", tampouco considero nossos problemas "insuperáveis". Dito isso, nós temos, sim, graves problemas, que o empresário minimiza, e eles não são insuperáveis, mas exigem radical mudança no curso atual. Algo que não há indício algum de que o governo pretende fazer, ainda mais com esse tipo de negligência de grandes empresários.

Steinbruch adota a tese de que nossa inflação não incomoda tanto, e que boa parte foi um surto do preço de alimentos. Falso. Perigosamente falso. O empresário tem sido um dos maiores defensores da redução de juros, mesmo sem condições para tanto. O preço chegou, em forma de inflação elevada e resiliente. Fingir que o problema não existe não é solução; apenas agrava seu risco. Ele diz:

A inflação, de fato, subiu, ultrapassou a teto da meta de 6,5% ao ano. Foi puxada pela alta dos preços dos alimentos, impulso que já passou. O mais recente IPCA-15 mostrou que estamos próximos da inflação zero, com possibilidade até de deflação no índice oficial de julho, agora sob influência da queda dos custos de alimentos e transportes.

Isso não significa que acabaram as preocupações com a inflação, até porque os preços dos serviços continuam em alta e o efeito câmbio pode impactar preços neste segundo semestre. Mas também não é o caso de propagar a ideia de que está de volta o velho dragão dos tempos da hiperinflação.

A "hiperinflação" pode não ser uma ameaça iminente, mas já vivemos em um cenário de estagflação (baixo crescimento e alta inflação), o que é extremamente prejudicial ao país. Essa postura confortável que o empresário demonstra diante do quadro beira à irresponsabilidade. É o povo mais pobre que mais sofre com a alta de preços. 

Steinbruch não vê risco de recessão à frente também:

A atividade econômica está fraca, muito aquém do desejável. A indústria, principalmente, muito prejudicada pela concorrência das importações, reduziu investimentos. Mas o país não segue a rota inevitável da recessão.

Mas se o governo insistir na toada atual, esse risco é bem real. Como eu disse, ele não é "inevitável", mas para evitá-lo é preciso alterar o curso. O governo atual pretende fazer isso? Nenhuma pista, nenhuma evidência disso até agora. Muito pelo contrário...

Nesse trecho, Steinbruch endossa a tese bem furada e cara-de-pau, levantada pelo ex-presidente Lula e repetida pela presidente Dilma, de que as manifestações ocorrem por conta do sucesso da gestão nos últimos anos:

Imagino, portanto, que as ruas estão pedindo um novo salto de qualidade ao país. Beneficiadas pelos avanços das últimas duas décadas, reclamam por infraestrutura, educação, saúde e combate à corrupção.

Eis, talvez, o principal problema do atual governo e, pelo visto, de alguns empresários que apoiam o governo: vivem na ilusão e ignoram a realidade. O pessimismo que condenam é somente um realismo bem fundamentado. Conclui o empresário:

Nem otimismo ingênuo, nem pessimismo doentio. Essa seria uma boa norma de conduta para todos os que torcem pelo Brasil e batalham pela melhoria de vida dos brasileiros.

De acordo! Resta saber se é "pessimismo doentio" apontar para os grandes riscos de catástrofe à frente, caso o rumo permaneça o atual. Ou se é o caso de falar em "ufanismo boboca" para aqueles que pintam um cenário de céu de brigadeiro, inclusive justificando as manifestações que tomaram as ruas do país com base nesse quadro fantástico. 

É "pessimismo doentio", por exemplo, mostrar ao empresário que o valor da empresa que ele controla, a CSN, despencou esse ano, perdendo quase a metade de seu valor somente nesses seis meses? Ou seria isso mais um sinal de alerta que merece profunda atenção?

Dilma é Lula é Dilma

Fonte: O GLOBO
Rodrigo Constantino

Merval Pereira, em sua coluna de hoje no GLOBO, levanta a hipótese de que a polêmica fala da presidente Dilma, ao dizer em entrevista que o "Volta, Lula" não faz sentido pois Lula nunca saiu, pode não ter sido uma barbeiragem política que atesta sua nulidade, mas sim uma "trucada" naqueles "aliados" que atuam nos bastidores por sua substituição. Diz o jornalista:

Mas, durante o dia, conversando com um e com outro, acabei abrindo uma janela na interpretação para aceitar a possibilidade de que o que considerava uma autêntica “barbeiragem” da presidente pudesse ser na verdade audaciosa manobra: e se em vez de uma frase infeliz a presidente tivesse dado, isso sim, uma “trucada” nos que querem vê-la substituída por Lula na campanha eleitoral de 2014?

Ao explicitar a simbiose com o ex-presidente, Dilma esvazia a principal razão de uma eventual substituição sua por Lula. Ao dizer que Lula sempre esteve no governo, Dilma deixa nas entrelinhas a mensagem de que seus acertos e erros têm que ser divididos com o ex-presidente, o responsável final pela sua candidatura e, sobretudo, o parceiro do que tem sido feito no governo, o avalista de sua candidatura à reeleição.

Eu tendo a concordar com Merval Pereira. Por isso mesmo ainda não tinha escrito nada sobre a entrevista da presidente. À primeira vista, fica parecendo uma confissão desastrada de que ela não passa de uma marionete. Mas uma reflexão um pouco mais profunda mostra que ela pode estar deliberadamente se defendendo daqueles que tentam sabotá-la de dentro do próprio partido.

Na verdade, eu concordo com a presidente Dilma! E isso é muito raro. Não faz sentido clamar pelo retorno de Lula, pois o sucesso ou fracasso da gestão Dilma tem as impressões digitais do ex-presidente em todo lugar. Não vamos esquecer que foi o próprio Lula quem disse, na época das eleições, que ele era Dilma, e Dilma era ele. 

Dilma foi importante ministra do governo Lula desde o começo, foi ganhando mais poder no governo, foi escolhida para substitui-lo, e contou com o aval completo do ex-presidente. Não dá para fingir que tudo mudou de uma hora para outra, que ocorreram mudanças radicais. Os erros de Dilma são também os erros de Lula. Ele é responsável por isso.

Não apenas por ter escolhido sua sucessora e garantido seu total apoio a ela, como por ter plantado várias sementes dos problemas atuais. No afã de eleger seu "poste", Lula turbinou o crédito público e expandiu os gastos do governo. A conta chegou durante o governo Dilma, que ainda enfrenta mudança nos ventos externos. Não seria muito diferente se fosse o próprio Lula no governo.

Talvez um pouco menos de intervencionismo arbitrário, um pouco mais de traquejo político, um pouco menos de arrogância na gestão econômica. Mas boa parte dos problemas atuais de nossa economia estaria presente ainda. Estamos falando de uma gestão petista, não apenas de Lula ou Dilma. Estamos lidando com o lulopetismo e o desenvolvimentismo da equipe econômica, lembrando que Guido Mantega foi colocado lá pelo próprio Lula. 

Portanto, a "trucada" de Dilma faz todo sentido: não adianta tentarem separá-la de Lula. Dilma é Lula é Dilma. São ambos ligados de forma simbiótica um no outro. O resultado do governo Dilma é responsabilidade direta de Lula, como ele mesmo afirmou. 

Desapropriação em Guaratiba

Fonte: O GLOBO

Rodrigo Constantino

Deu no GLOBOPaes anuncia para esta terça-feira decreto de desapropriação em Guaratiba

O prefeito Eduardo Paes anunciou em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (27/7) que publicará nesta terça o decreto de desapropriação do terreno onde foi montado o Campus Fidei, em Guaratiba. O loteamento foi prometido pela Igreja Católica, e idealizado numa conversa entre o prefeito e o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, para ocupar o lugar onde ocorreriam os eventos de vigília e missa de envio no encerramento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O prefeito defendeu a organização do evento, afirmando que a Igreja tinha todas as licenças ambientais, tanto do estado quanto do município, para a realização dos trabalhos de terraplanagem que foram realizados.
Mas eis o trecho que mais chamou a minha atenção:

Apesar de anunciar a desapropriação, Paes insistiu em afirmar que não sabe a quem pertence o terreno. Ele admitiu que a região também precisa de uma legislação urbanística nova, o chamado Plano de Estruturação Urbana (PEU), cujas discussões devem ser agilizadas nos próximos meses.
Tentando entender a coisa toda: o evento da igreja "mica" na área previamente organizada pois a prefeitura não contou com a possibilidade de chuva; a revolta é geral pela desorganização e incompetência; o governo cria, então, uma cortina de fumaça, com a notícia de que vai usar a área para criar um bairro popular novo; para dar continuidade ao anúncio, agora a prefeitura avisa que vai desapropriar o terreno; e, como se não bastasse isso, diz que nem sabe quem é o seu proprietário!

Como a prefeitura não sabe o proprietário do terreno é um mistério para mim. Será que ignora isso na hora de cobrar os impostos? Mas, do ponto de vista liberal, o que preocupa mesmo é essa flexibilização do direito de propriedade no Brasil. Os governos concentram poder demasiado para simplesmente "invadir, pilhar, tomar o que é nosso", como dizia a letra da música do RPM.  

Em nome de um bem coletivista qualquer, o governo se sente no direito de expropriar propriedade particular. Esse tipo de coisa ameaça esta que é a principal instituição do capitalismo. Acabamos com a propriedade privada de jure, mas nem sempre de fato. A insegurança que isso gera é enorme.

Nos Estados Unidos, durante o auge das ferrovias, o governo expropriou muitas terras para fins "nobres". As ferrovias estatais acabaram falidas. Enquanto isso, empresários construíam suas próprias ferrovias, algumas transnacionais, e como não contavam com a prerrogativa estatal de simplesmente decretar a expropriação, tiveram que comprar as terras demandadas. Muitas dessas ferrovias foram bem-sucedidas.

Quando escuto que o governo vai expropriar uma propriedade, tombar outra, ou impor um Apac que impede reformas modernizantes em prédios velhos, tudo sempre em nome do bem-geral, confesso que tenho calafrios. E quando vejo isso com o objetivo de construir um novo bairro popular do zero, penso em Ayn Rand e tenho ainda mais calafrios. 

É muito poder concentrado em governantes que se arrogam uma sabedoria que simplesmente não possuem. E quem paga a conta somos todos nós, os proprietários à mercê desses governantes. Afinal, de quem é a propriedade?

segunda-feira, julho 29, 2013

Scheinkman culpa governo por economia travada

Rodrigo Constantino

Em entrevista para a Folha, o economista José Alexandre Scheinkman coloca a culpa de nossa economia travada na incompetência e na ideologia equivocada do governo. Seguem alguns trechos relevantes:

Sim, e essas empresas melhoram ao se tornar formais. Mas, como há um tamanho máximo de faturamento para ficar dentro das faixas de tributação no Brasil, há um desestímulo na busca por crescimento por parte dessas empresas e isso prejudica a eficiência da economia.

O ideal seria diminuir os impostos para as firmas maiores e trazê-las mais perto das outras.
Há os casos de proteção setorial. As pessoas esquecem que a política setorial dificulta a vida das indústrias que usam o insumo do setor protegido. Elas acabam não podendo se tornar tão eficientes quanto as de países que têm acesso ao mesmo insumo a preço relativamente menor.

Um amigo meu diz --e eu concordo-- que um dos grandes problemas do governo brasileiro é a incompetência. Eu não consigo explicar isso por malevolência, por um pensamento de que o governo quer um país atrasado.

Às vezes as políticas são extremamente prejudiciais ao país por incompetência --por exemplo, quando o governo controla o preço da gasolina. Isso levou ao aumento do congestionamento e da poluição e prejudicou uma das poucas tecnologias importantes criadas no Brasil, a da indústria do etanol.

Não imagino que o governo decidiu gerar essas consequências. Mas alguém teve a brilhante ideia de, entre aspas, controlar a inflação mantendo o preço da gasolina estável e não pensou nas consequências.
Há uma questão também de ideologia. Há reformas que precisavam ser feitas, mas que não atendiam à ideologia do governo. Acho que agora o governo entendeu que precisa trazer mais investimento privado para áreas como ferrovias, portos etc.

Outro problema importante é a baixa taxa de poupança. Então, o governo cobra muito imposto, mas tem gastos enormes e pouca capacidade financeira para investir, além da falta de capacidade que eu já mencionei de competência do setor público.
Excesso de intervencionismo econômico, altos impostos para permitir elevados gastos públicos, desconfiança com o livre mercado, protecionismo comercial, enfim, as mazelas de nossa economia são conhecidas, e foram intensificadas durante o governo Dilma. O Brasil precisa, mais que nunca, resgatar uma agenda de reformas liberais, reduzindo o papel estatal e ampliando o do mercado. Ou isso, ou continuaremos travados.  

O mal de Bresser-Pereira

Rodrigo Constantino

Em sua coluna de hoje na Folha, Luiz Carlos Bresser-Pereira fala sobre a "banalidade do mal", tema ressuscitado pelo filme em cartaz sobre Hannah Arendt (que ainda não tive a oportunidade de ver). De fato, o grande mal é possível quando parece banal, e essa foi a sacada da filósofa. Como resume o colunista:

Em vez de simplesmente retratar Eichmann como o gênio do mal, como esperavam seus leitores, em vez de descrevê-lo como um homem violento e racista, ela o descreveu como um medíocre burocrata que cumpria ordens, um homem normal sem capacidade de avaliar o mal que praticava.

E faz então uma descoberta fundamental: identificou a banalidade do mal, o fato de que ele só se torna imenso quando se torna banal e, por isso, compartilhado por muitos.

Até aqui vamos bem. Mas eis que Bresser-Pereira resolve dar exemplos dessa "banalidade do mal" mais modernos. E aí ele sai pela tangente. Coloca o terrorismo islâmico ao lado da Guerra do Iraque e da guerra civil na Síria. Ele diz:

A partir dessa definição, saliento três manifestações maiores do mal neste início de século: o terrorismo islâmico contra inocentes, a Guerra do Iraque, e a guerra civil "pela democracia" na Síria. Nos três casos, vimos ou estamos vendo uma violência imensa contra seres humanos inocentes.

Não há nada que justifique as mortes causadas pelo terrorismo islâmico, assim como pela Guerra do Iraque, e pela guerra na Síria, apoiada pela Arábia Saudita e por potências ocidentais. Nos três casos, vemos a banalidade do mal.

Existem inúmeros motivos para se discordar da Guerra do Iraque. Mas colocá-la no mesmo barco do terrorismo islâmico é absurdo. Ignora-se que antes dessa guerra o país era dominado por uma cruel ditadura, que já havia banalizado o mal totalmente. Ignora-se que Saddam Hussein não cumpria os acordos firmados com a ONU de inspeção, e que o ditador financiava terroristas. Enfim, ignora-se completamente que derrubar um ditador sanguinário não pode ser comparado a explodir um prédio repleto de civis com o intuito deliberado de matá-los. 

Mas a tática é conhecida. Ayn Rand foi perspicaz ao descrevê-la em seus livros. Quando você quer atacar sua sogra, você diz que repudia igualmente o veneno das cobras, a mordida do rato, e o sermão da sogra. O alvo fica evidente. O mesmo faz a esquerda sempre: há críticas a serem feitas contra o socialismo, o nazismo e o capitalismo. O que se quer com isso? Difamar o capitalismo, claro!

Como nada nesse mundo é perfeito, tudo será passível de crítica sempre. Quem tenta jogar no mesmo saco coisas tão diferentes por conta disso, parece ter um alvo específico. Ninguém é perfeito, logo... o estuprador, o pedófilo e o sujeito que mentiu para a mulher são todos "pecadores". Quem se quer condenar com esse tipo de discurso?

Espero ter deixado claro que colocar a Guerra do Iraque ao lado dos ataques terroristas islâmicos e o que se passa na Síria só pode ter uma intenção: atacar a Guerra do Iraque e seu principal responsável, o governo americano. Bush e Osama bin Laden acabam retratados como igualmente terríveis. Não faz o menor sentido.

Ao término do artigo, Bresser-Pereira ainda dá um deslize final:

O mal está, portanto, entre nós. Está nesses episódios, está nos crimes associados às drogas, está na violência e no desrespeito contra os pobres. Mas é difícil para nós nos indignarmos, porque esse mal é banal. Só quando ele deixa de sê-lo, e a sociedade se torna indignada, pode ele ser combatido e, em alguns casos, vencido.

O trecho por mim grifado diz tudo: quer dizer que a violência e o desrespeito contra os pobres é condenável e representa a "banalidade do mal", mas contra os mais ricos não? Roubar da classe média pode? Violentar uma moça de família abastada não tem problema? Nota-se a demagogia e o sensacionalismo, típicos da esquerda. O mal de Bresser-Pereira é (ser) seletivo.

Pondé em Miami

Rodrigo Constantino

Em sua coluna de hoje, o filósofo Luiz Felipe Pondé fala da angústia do "eu", sempre em busca de satisfazer expectativas de terceiros. Pondé descasca essa tirania dos desejos na era moderna, esse "faz tudo" pelas aparências, os embustes dos programas de "autoconhecimento" à jato, enfim, ele aponta para vários sintomas de uma das principais doenças da modernidade.

Mas não quero falar disso. Quero pegar um trecho de seu texto mais profundo e focar em um aspecto bem mais raso e superficial. Receio que o bebê seja jogado fora junto com a água suja do banho. Eis a passagem em questão:

Outro dia, contemplava pessoas num aeroporto embarcando para os EUA com malas vazias para poder comprar um monte de coisas lá.

Que vergonha. É o tal do "eu" que faz isso. Ele precisa comprar, adquirir, sentir-se tendo vantagem em tudo. O "eu" sente um "frisson" num outlet baratinho em Miami. O mundo faz mais sentido quando ele economiza US$10. E o pior é que, neste mundo em que vivemos, faz mesmo sentido. Qualquer outra forma de sentido parece custar muito mais do que US$ 10.

Entendo perfeitamente o ponto do filósofo. Como morador da Barra da Tijuca há três décadas, posso atestar com inúmeros exemplos concretos a existência desse tipo de gente em abundância. São pessoas "bregas", como diz o próprio Pondé, que pensam ser possível preencher um vazio existencial com roupas de grife (muitas já ultrapassadas nos States) ou aparelhos tecnológicos de ponta. Não podem.

Dito isso, considero injusto jogar todos no mesmo saco. Quem é movido por isso, quem é "escravo" dessas paixões consumistas, quem, enfim, confunde seu próprio "eu" com a marca estampada em sua roupa ou seu celular, sem dúvida representa o alvo típico do ataque de Pondé. Trata-se não só de algo brega, como algo um tanto triste do ponto de vista existencial.

Mas nem todos que vão para Miami de malas vazias sofrem desse mal. É perfeitamente factível alguém ter outros interesses, outros valores, um pensamento mais denso e profundo sobre a vida, e ainda assim não gostar de rasgar dinheiro, ou pior, de deixar boa parte do que gasta nas mãos corruptas do nosso governo.

Fazer compras em Miami é apenas algo racional. Encontra-se de tudo a um preço bem menor. Em certos casos, para quem pretende comprar muita coisa, talvez um enxoval de casamento ou para o bebê, consegue economizar bastante dinheiro mesmo incluindo a passagem. Não estamos falando de US$ 10, mas de centenas de dólares.

Essa quantidade enorme de gente que viaja para Miami para fazer compras pode ser perfeitamente um indício do sintoma que Pondé aponta no texto, mas pode muito bem ser evidência de outra doença, mais prosaica, mais trivial: os preços absurdos dos mesmos produtos no Brasil, basicamente devido aos impostos escorchantes. Como diz um amigo meu, compro em Miami porque sou pobre; se fosse rico, comprava no Brasil mesmo.

Por fim, é preciso ter cuidado com intelectuais e filósofos que pairam acima desses desejos materialistas. Não é o caso do próprio Pondé, que volta e meia expõe a hipocrisia dessa gente, que finge gostar de filmes chatos iranianos enquanto assiste escondido a novela da Globo. São esquerdistas que condenam o consumismo do capitalismo portando uma bolsa da Louis Vitton, pois ninguém é de ferro.

Claro que os excessos consumistas devem ser condenados. Como eu disse, é muito triste alguém ser "escravo" de uma marca de roupa ou celular, tudo pelas aparências, pelos outros. É muito vazia, muito superficial, uma vida assim. Mas é perfeitamente normal usufruir dos produtos modernos, sem se deixar cegar por isso. Usá-los, e não ser usado por eles. 

Para os que conseguem isso, nada melhor do que pagar um preço bem menor por eles, pois ninguém gosta de rasgar dinheiro, nem intelectuais. E para isso, nada melhor do que comprar em Miami, onde tudo é muito mais barato. De quebra, ainda há bons restaurantes. Convido Pondé para um bate-papo profundo no Nobu. Falaremos de Dostoievsky, Camus e Kafka, comeremos muito bem, e a conta será menor do que a de um restaurante mediano paulista. Que tal?

PS: Absurdo mesmo é o governo brasileiro insistir com um limite ridículo de US$ 500 por pessoa para trazer de fora, sendo que a polícia alfandegária está cada vez mais atenta, revirando até roupas das malas em busca de mais arrecadação com esses impostos indecentes.